quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Minha primeira entrevista: "Cada um vive o que quer e ponto."

A neuropsicóloga Mirian Malatesta Reis conta como a homofobia é encarada pela Psicologia e diz como a sociedade reage à diversidade sexual.


A homofobia é uma realidade no Brasil e não pode ser ignorada. Descobrir o motivo pelo qual algumas pessoas desenvolvem certa aversão à homossexualidade é uma tarefa árdua da psicologia. A neuropsicóloga Mirian Malatesta Reis me recebeu em seu consultório, no bairro de Moema, em São Paulo, para explicar qual o papel da Psicologia no enfrentamento à homofobia.  Além disso, fez uma crítica severa às fontes midiáticas que propagam por meio dos meios de comunicação imagens deturpadas dos homossexuais: “Isso é uma discriminação e ninguém percebe. Não consigo entender como os homossexuais permitem que isso aconteça.” A neuropsicóloga também se mostrou indignada com o uso da religião para impor o que é certo e errado ao homossexual.


Na opinião da senhora, qual é o papel da Psicologia no enfrentamento à homofobia?
A realização de terapias individuais não permite um enfrentamento à homofobia em escala social. Para haver de fato um enfrentamento à prática homofóbica, deve existir uma conscientização de toda a sociedade. As pessoas devem ter em mente que todos nós temos fobias, temos medos, temos aversões a algo. Cabe a cada um de nós saber administrar esse sentimento de repulsa sem interferir na vida do outro. Acredito que a Psicologia não tem forte influência no que diz respeito ao enfrentamento à prática homofóbica. Mas a sociedade de modo geral tem.

No campo acadêmico, como a Psicologia se posiciona quanto à diversidade sexual e à homofobia? Essa ciência assume alguma postura?
Não. A Psicologia não tem um posicionamento definitivo. A pessoa que procura um especialista é tratada dentro do conteúdo dela. Ou seja, dentre nós da área da Psicologia há uma imparcialidade. Não levantamos bandeiras, mas buscamos conscientizar as pessoas de que somos diferentes em todos os âmbitos. E isso é ótimo! Um homofóbico não precisa pedir permissão para ser aceito dentro de um grupo. Então por que o homossexual precisa? É um absurdo! Cada um vive o que quer e ponto. Os psicólogos devem ajudar o homossexual a entender o porquê de sua escolha sexual. Não concordo quando dizem que o homossexual já nasce assim ou que é simplesmente uma opção. Tudo na vida de uma pessoa tem que ser entendido.

Mas o fato de o homossexual entender o porquê da sua escolha sexual não pode contribuir para que ele repense e tente mudar sua forma de ser?
Não. Essa forma de pensar, aliás, é preconceituosa. A terapia é o encontro que você realiza com seu interior, com suas questões mais íntimas. Ela serve para clarear causa e consequência. E, assim, você passa a ter total domínio sobre sua própria vida.

Que impactos psicológicos e sociais as agressões preconceituosas, tanto física quanto moral, podem causar em um homossexual?
É muita coisa. Preciso me controlar para não me emocionar. As agressões causam impacto na autoimagem do homossexual, deturpam sua personalidade. Às vezes nem a terapia é capaz de reverter tais impactos. O agredido busca o isolamento e se torna alvo de “chacota”. O que eu mais recebo em consultório são homossexuais que foram fisicamente agredidos. Isso gera na pessoa uma depressão terrível. Ela pode passar a se autoagredir.

Como os psicólogos podem auxiliar os familiares de um homossexual que são contrários à homossexualidade?
É complicado! É incrível como o ser humano adora ser preconceituoso. A Psicologia orienta no sentido de que não interessa a opinião da pessoa, afinal trata-se de um ser humano. O problema é que o ser humano vai muito atrás do que é socialmente aceito. Tem casos em que pessoas se envergonham de ter um homossexual na família e
acabam não se preocupando em como ele está se sentindo. A nossa área orienta os familiares a viver com essa pessoa, “afofando” sua vida, em vez de trazer mais agressões, dúvidas e problemas. Afinal, o amor entre familiares deve ser incondicional.

Enquanto psicóloga, como a senhora visualiza a aceitação da sociedade brasileira atual quanto à diversidade sexual?
Está muito melhor hoje em dia. Mas é hipocrisia falarmos em aceitação. As pessoas estão cada vez mais articuladas, então não tapam mais o sol com a peneira. E não me refiro apenas à diversidade sexual. A sociedade brasileira atual é tão rudimentar que impõe preconceitos até a pessoas que usam barba ou que tem uma tatuagem. É o cúmulo!

E a religião? Influencia nessa reprovação à diversidade sexual?
Com certeza. Quanto mais religioso é um determinado grupo, menor será a aceitação dele para com homossexuais. E isso é extremamente maléfico ao homossexual que, não raramente, é espiritualizado. Ele entra numa espécie de luta interna. Ainda mais se parentes e amigos dizem que a homossexualidade é algo “do diabo”. Para que dizer isso? Ele já está em um autoconflito! A religião deveria ser algo acolhedor e reconfortante para a família. E não um meio utilizado para determinar a escolha de cada um.

Como a senhora avalia a propagação na mídia de estereótipos relativos aos homossexuais, por meio de novelas e programas humorísticos, por exemplo?
Horrível. Isso só piora, pois não é feita uma conscientização de que o personagem é um ser humano. Mas, um homossexual. E só. Isso é uma discriminação e ninguém percebe. Não consigo entender como os homossexuais permitem que isso aconteça. Nas novelas, principalmente, eles são retratados como cachorrinhos de estimação que você deve aceitar e gostar, pura e simplesmente, por ele ser homossexual. A opção sexual da pessoa não pode definir se você deve gostar ou não dela. A novela discrimina o homossexual de forma velada.
Muitas vezes o ator nem é homossexual. Isso é ridículo! É como se aquilo fosse um mero teatro. Mas não é. Aquilo é vida real. Que ponham ao menos um ator homossexual no papel. A homossexualidade não pode ser tratada como um espetáculo dentro da novela. Deveria ser um processo natural. O pior é quando lançam aquelas enquetes perguntando se os dois gays da novela devem ou não ficar juntos no final. Isso é de uma discriminação absurda! Está sendo passado que nós temos o poder de decidir o futuro dos homossexuais.

A criminalização da homofobia seria uma medida coerente a ser tomada na tentativa de conter os casos de preconceitos e agressões contra o homossexual?
Isso é muito relativo. Se você pune, você gera mais agressão velada, escondida. No cinema, um homossexual pode ser agredido, repentinamente, com uma facada. Em uma rua escura ele pode ser apedrejado. Por outro lado, se não há punição, a agressão fica escancarada. É uma questão muito complicada, não sou capaz de decidir sobre isso. Há muito a ser estudado, não só por parte da Psicologia, mas por toda a sociedade.
Eu acredito que a punição deve ser feita não pelo agredido ser um homossexual, mas por ele ser um ser humano. Toda forma de agressão deve ser punida de alguma maneira.



domingo, 6 de novembro de 2011

Querer você

Eu quero olhar seus olhos e dizer que você representa o mundo para mim. Eu quero andar de mãos dadas com você no meio da multidão e fingir que não há ninguém em volta. Eu quero lhe pegar no colo, lhe jogar na cama e lhe amar profundamente. Eu quero que você se encoste em meu peito para que eu faça um cafuné nesse seu cabelo cheiroso. Eu quero tomar banho com você e deixar a água escorrer pelo nosso corpo enquanto nos beijamos. Eu quero ir ao cinema com você sem sequer saber o nome do filme. Eu quero conhecer sua família, adentrar seu cotidiano, e respirar do mesmo ar de que você sobrevive. Eu quero cozinhar para você enquanto você aguarda no sofá assistindo a algum programa de televisão típico de domingo. Eu quero chegar do trabalho cansado, deitar em nossa cama e esperar por uma boa massagem. Eu quero jogar pétalas de rosa vermelha pela casa, comprar um bom vinho e deixar que a noite nos guie ao prazer. Eu quero correr atrás de você pelas ruas de São Paulo e te agarrar pela cintura, como se fôssemos eternos namorados. Eu quero ir ao karaokê e cantar desafinadamente aquela nossa música. Eu quero rir sem parar de algum motivo bobo que só nós tenhamos conhecimento da graça. Eu quero que você me deixe lhe amar, e eu quero que você ame a mim. Eu quero você.

Enquanto muitos pensam que isso é utopia, eu penso que isso é amor. E amor, meus caros, é a realidade que move minha vida.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Cozinhando, cozinhando...

Paciência é virtude?

Eu já fui paciente e impaciente. Só um parêntese: esse blog pertence a um tal de Maurício, então o assunto é, provavelmente, sobre amores e desamores. Pensem assim e a condução da leitura será de fácil compreensão.

Eu já fui paciente e impaciente. Já me atirei de cara, com apenas alguns dias de conhecimento, e já esperei tempo demais para agir. Nenhum dos dois casos deu certo.

Isso aconteceu porque cada situação clamou por uma maneira de agir. E eu, talvez por conta da minha imaturidade e falta de experiência, ainda não sabia definir qual era o momento certo para agir, e qual o momento certo para esperar.

Ultimamente, tenho sido paciente, e já estou impaciente com minha forma de agir. Quero me atirar, me entregar, gritar aos sete mares. Mas tem uma pontinha dentro de mim que me permite ficar com os pés no chão. Tal pontinha chama-se passado. O passado já me provou por A+B que "quem tem pressa come cru". E por mais apaixonado que eu seja pela culinária japonesa, está na hora de cozinhar as coisas. Está na hora de comer algo "no ponto".

Talvez eu deva cozinhar minha forma de agir. O tempero, contrariando os culinaristas, vem com o tempo, se coloca depois. O que eu ainda preciso é saber cozinhar. Meu erro é sempre querer colocar o tempero na coisa crua. E comparando relacionamento com comida, sabemos que quando se está cru, não há tempero que pegue no alimento. Mas também não posso esperar demais e deixar a coisa torrar, senão nem o tempero irá tirar o sabor de carvão, amargo e cruel.

Afinal, paciência é virtude? Depende da forma que se cozinha.

sábado, 29 de outubro de 2011

A gente nem se conhecia...

Você estava tão sozinho naquele seu mundo circulado por todos os seus amigos. Você estava naquele seu cantinho, carente, precisando de mim. E a gente nem se conhecia. Uma brincadeira aqui, uma troca de olhares ali, mas você se perdeu na multidão da noite vazia. Eu buscava seu olhar e você, o meu. Mas eles não se encontravam. Demorou uma hora de eternidade para o reencontro acontecer. Foi tiro e queda. Você veio em direção à minha boca. Eu apertava seu quadril, você mordia meu pescoço. Nosso suor já se misturava e nossas roupas não impediam nossos toques íntimos. Mil pessoas a nossa volta, e só nós dois estávamos naquele ambiente. De novo, repito: a gente nem se conhecia. Creio ter sido paixão à primeira vista, embora não acredite muito nessas bobagens. Mas só de lembrar da sua cara de "sexo", eu fico louco. Meu coração dispara, e todos os meus órgãos entram em sintonia, guiados por uma música bem alta, que ensurdece o meu sentir. É, você me fez levitar, como nunca ninguém fez. Foi uma semana de muita paixão, uma única semana que será eterna em mim. Lembro dos seus lábios tocando suavemente minha orelha, enquanto minha mão massageava seu sexo. No cinema, parecíamos namorados... e a gente nem se conhecia. Você colocava o chocolate na minha boca, e eu mordia, até alcançar seu dedo. Eu pegava em sua mão e deixava você sentir tudo aquilo o que eu era, tudo aquilo o que eu queria ser. Eu abri minha história para você, e você me contou detalhes sórdidos da sua... e a gente nem se conhecia. O celular parecia estar no automático, mais de 100 mensagens trocadas por dia. Eu só queria saber se você estava bem, e você queria saber se eu era o homem certo. Você me testou, me questionou e, ao meu ver, fui bem em todas as respostas. Tinha tudo para dar certo... mas a gente nem se conhecia.

O dia em que te conheci, acabou. Na verdade, era tudo fantasia. Sua máscara caiu e, por mais que você a tenha colocado de volta no rosto, nela havia uma rachadura que não me permitiu te reconhecer como fantasia, mas como ser humano. E você, sinceramente, é muito melhor de fantasia do que de ser humano. Sugestão: compre uma nova máscara!

sábado, 10 de setembro de 2011

O chá de bebê

Era sábado, 9h30, e eu estava com sono. Havia dormido em torno de 4 horas, durante as quais acordei várias vezes por conta do frio. O peso sobre meus olhos não impediu minhas pernas de se levantarem e marcharem rumo à estação de metrô Vila Madalena. Cambaleante, seguia na calçada, em lenta marcha, ao meu verdadeiro objetivo: a tranquilidade de minha casa. Mas, como todo filósofo de bar sabe, para se alcançar a tranquilidade deve-se passar por derradeiros maremotos do cotidiano que embaralham nossa consciência como um verdadeiro jogo de cartas. Truco! Seis, ladrão!

Eu estava ainda de jejum, então comprei uma água de coco, dessas de caixinha, na padaria antes mesmo de entrar no metrô. Um cigarro fez companhia ao ato de beber. E embarquei. A primeira meta era chegar à estação de metrô Terminal Sacomã para, posteriormente, seguir o meu trajeto. A viagem de metrô, que durou cerca de 25 minutos, foi bastante agradável. Rachel de Queiroz me fez crer em discos voadores e em extraterrestres e Graciliano Ramos me provou, por a mais b, que milagres existem. Nada mais natural, pois para me fazer acreditar em seres extraterrestres foi necessário um milagre gracilianesco!

Ao desembarcar no Terminal Sacomã, percebi que o néctar das crônicas lidas me foi benéfico e verdadeiro estimulante. Por mais que as olheiras anunciassem minha necessidade de uma cama, eu estava atento a (quase) tudo que ocorria à minha volta. Maldita ilusão de que a atenção aos detalhes do cotidiano é virtude! Pois, ao continuar meu caminho e embarcar no ônibus que me levaria ao ponto final de meu anseio, começou o maremoto. E a falta de atenção teria transformado o maremoto em apenas uma "marolinha".

Sentei-me à desconfortável poltrona do 5034-10 Vila Liviero. Em alto e bom tom, grito: ônibus dos infernos! O estofamento das poltronas é, por vezes, rasgado e riscado; o chão está sempre sujo pela falta de cidadania alheia; os passageiros escutam música sem a utilização de fones de ouvido e conversam (ok, gritam) como se estivessem em suas próprias casas; o motorista é, em 99% dos casos, apressado e não se importa com o bem estar dos passageiros. Nessa viagem, minha atenção pode constatar que, além de não se importar com os passageiros, o motorista não dá muito valor aos pedestres.

O princípio do maremoto.

É paradoxalmente incrível como o sono nos desperta. Porque sabemos que, em qualquer vacilo, os cílios superiores dão um jeito de se encontrarem com os inferiores. E aí, meu amigo, não há quem os separe. Portanto, pretendi permanecê-los bem distantes uns dos outros. Não havia nenhum obstáculo à frente da minha vista, afinal eu estava sentado na poltrona do lado direito à do motorista. O grande parabrisa do ônibus também facilitou minha visualização das ruas pelas quais circulávamos e dos pedestres pelos quais passávamos. Minha atenção, além de estar em plena forma, ganhou amigos que a deixaram 100% operante.

Atrás de mim, duas senhoras. Ainda nos seus 40 e tantos anos, mas nomeio-as de "senhoras" pela aparência maltratada e literalmente envelhecida. Conversavam sobre a dureza do trabalho diário e, à afirmativa de uma delas "mas o meu trabalho é mais pesado que o seu", a outra tergiversou, e tudo isso ao som de um funk bem escroto do garoto-que-não-conhece-fone-de-ouvidos sentado um pouco mais atrás. Esse seria um modelo bem interessante para o Diabo utilizar na penitência de seus convidados. Portanto, preferi continuar com meus olhos voltados à pista, mesmo que, invariavelmente, minha mente já estivesse confusa com tanta informação que vinha até meus ouvidos.

O motorista estava bem rápido. Por mais que o velocímetro registrasse aproximadamente 50km/h - confesso que desviei meu olhar, um pouco estreito, ao painel do ônibus - a impressão era a de que o ônibus trepidava ao dobro do que estava marcado. O motorista já era velho. Grisalho, gordo, e estava com sono! Era visível em seu rosto um cansaço anormal. E, como eu disse anteriormente, é melhor não juntar os cílios superiores aos inferiores, senão... maremoto! O motorista atropelou um pedestre e minha atenção presenciou o incidente de forma bem crua. Não discutirei aqui se o pedestre se machucou ou se a batida foi muito intensa. O que realmente importa é o chá de bebê!

No ato da pancada, o motorista parou o ônibus e desceu para verificar o estado do atropelado - admirei a atitude do motorista que, embora previsível no que diz respeito a conceitos, na prática sabemos que é raro. Minha atenção teve de se desdobrar. Aspirante à jornalista, fiquei observando da janela o suposto acidentado e o suposto causador do acidente. Mas meus ouvidos, ah! meus ouvidos também estavam bastante atentos. E, para sorte dessa minha pequena arte aqui exposta e azar de meus ouvidos - pobres coitados! -, engoli a seco o testemunho gritado de uma das senhoras que se sentava atrás de mim, referindo-se ao ato do motorista de parar o ônibus e socorrer o acidentado: "Pelo amor de Deus, pra quê parar o ônibus? Ai, meu Jesus, já estou atrasada para um chá de bebê. Anda logo, motorista!"

O motorista andou logo. Em menos de 2 minutos constatou que o acidentado passava bem. Então, voltou ao ônibus e seguiu viagem. O funk continuou a dar tom às trepidações do ônibus. A senhora-que-grita-em-transportes-públicos teve um atraso de menos de 2 minutos (somados aos minutos que ela já estava atrasada) para o seu chá de bebê. O acidente poderia ter atrasado toda uma vida de uma pessoa alheia à vida dela.

Um brinde ao bebê que ganhará vida, um brinde à vida que não teve atrasos, um brinde aos 2 minutos de maremoto da senhora atrasada.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Algumas doses de mar

Sabe a lua? Ela faz com que as ondas do mar se agitem e se percam entre si quando se diz cheia.

Sorte do tubarão, que em sã consciência - e forte estrutura física - captura os frágeis peixes ludibriados pela astrologia. A maré sobe e as águas marinhas metamorfoseiam-se em uma louca festa. É água sobre água, que já não se sabe o quanto de sal em cada litro restou.

Mas a lua... Ah, sim, a lua! Eterna amaldiçoadora. Há milênios - quiçá, bilênios! - amaldiçoa o mar que, em sua compania, amaldiçoa a todos nós, humanos, com o amor.

Sorte do tubarão-humano, que em sã consciência - e pouca sensibilidade - captura os frágeis peixes-humanos ludibriados pela eterna promessa de amor. O tesão sobe e as palavras ditas metamorfoseiam-se em água, em sal, em nada. É decepção sobre decepção, que já não se sabe o quanto de amor em cada dose de mar restou.

sábado, 20 de agosto de 2011

Chega de esquivas, entregue-se!

Cada vez mais encontramos relacionamentos fadigados, frios, quebradiços. Isso é resultado de um processo muito conturbador pelo qual o ser humano tem evoluído assustadora e rapidamente: sua facilidade em não se envolver com outro ser humano.
Logo no início de uma relação, quando você começa a conhecer a outra pessoa, já é possível perceber o quão disposta ela estará para “mergulhar” em um relacionamento amoroso a dois. E, não raramente, é ainda no início que as pessoas começam a ser esquivas, evasivas, sem profundidade, superficiais. Ou seja, não dão espaço para um real envolvimento entre as duas, alegando um possível desafeto no futuro. Isso é medo de se machucar? Isso é lembrança de relacionamentos anteriores nos quais a pessoa foi machucada? Afinal, o quão covarde você é, a ponto de não conseguir se envolver com um outro ser humano, da forma mais gostosa e natural que existe, por causa de uma outra pessoa que já passou por sua vida?
Liberte-se do passado, se abra para o futuro. Se não tentarmos, se não estivermos abertos ao desconhecido, nunca saberemos quanto de amor e carinho essa outra pessoa poderá nos proporcionar. E aos mais radicais que não creem no amor, ou creem, mas consideram impossível encontrar um, eu vos digo: amai, amai mesmo! Seja quem for, ame. Não deixe de amar por achar que o amor é difícil. Não deixe de amar o novo porque o antigo lhe provou que o amor entre vocês não deu certo. Afinal, uma pessoa que não ama é uma pessoa que não vive. Não deixe de viver! Não deixe de se envolver!

Cabrum do bem.

As nuvens lá foram principiam a tempestade aqui dentro. É como se raios e trovões iluminassem todo um arsenal de sentimentos e sensações que almejam pela explosão e autoexteriorização. Estão apenas à espera daquele dedo que irá pressionar o botão "explodir". Mas cadê esse dedo personalizado em coragem? Ele está escondido, perdido entre palavras de ódio e rancor que inibem sua atuação. Paradoxal, não? Ódio e rancor deveriam ser palavras impulsionadoras de uma grande explosão. Mas quem disse que minha explosão será de ódio e rancor? Não, não. Quero explodir de alegria, de amor, de paz. A luz proveniente dessa explosão deverá guiar meus caminhos, beneficiando não só a mim, mas a todos que me acompanham. Tempestades de grande calmaria estão por vir.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Amar é...

Amar é perder-se em abismos profundos de pura alegria; é sentir-se totalmente completo no meio do nada; é ser o que se quiser, sem medo, sem receio; é entregar-se a um corpo cujos donos são deuses da beleza, da sedução, da paixão; é poder olhar nos olhos e saber que enxerga mais que retina, íris e córnea, enxerga a pureza e o defeito da pessoa amada, admirando milimetricamente cada célula imperfeita e cada atitude desprovida de lógica; é poder admirar um simples gesto e algo extraordinário de formas equivalentes; amar é entrega, é envolvimento, é desejo.

Amar... ahhhhh... amar não é nada disso! Amar não exige palavras complicadas, conceitos absurdos, nem opiniões alheias. Amar é amor.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Aleluia, irmão!

Afinal, deus, quem é você? Onde você está? Qual sua função? Posso lhe chamar de "você"? Você... existe?
Esses questionamentos são muito comuns, principalmente naqueles que não tiveram uma cultura religiosa muito definida - como eu. Sempre fui criado na igreja católica. Fui forçado a fazer dois anos de catequese para, posteriormente, ingressar definitivamente na religião católica por meio da primeira comunhão. Porém as doutrinas católicas sempre andaram na contra-mão com minha forma de pensar e com os aprendizados que a própria vida me proporcionou. Além disso, nas aulinhas de história, pude perceber o quão manipuladora essa igreja já foi no passado - e ainda o é no presente.

Mas, mesmo assim, sempre fui muito espiritual. Creio que a fé é importante e necessária para qualquer ser humano. Por isso, procurei outras religiões às quais tentei me adaptar. Não deu certo. Fui a uns 4 tipos de igrejas protestantes. Assisti a cultos, leituras da palavra, sessões de descarrego, pregações. O protestantismo é muito parecido com o catolicismo - porém mais fervoroso e sensacionalista. Lembro-me de um episódio no qual fui à igreja universal e durante todo o culto o pastor olhava para mim e dizia que o diabo estava presente naquela tarde. Será por causa da minha camiseta vermelha com uma estampa de um portal pegando fogo? Enfim...

Já fui também a cultos espíritas. Confesso que não sei muito o que se enquadra no "espiritismo". Mas já fui a centros kardecistas e umbandistas... serve? Confesso, também, que se a escolha por uma religião fosse obrigatória, escolheria por uma delas. Mas, graças a deus - risos - não é.

Considero as religiões uma forma de manipulação do pensamento humano. E creio que para ter fé não é necessário se deslocar de sua própria casa para encontrar um bando de pessoas gritando "aleluia" ou cantando alguma música esotérica. Deus, se realmente existe, deve estar presente em todo e qualquer lugar, aguardando sua oração, seu agradecimento, seu pedido. Aliás, se deus existe, ele não deve subjulgar um ser humano pela forma de vida que ele leva. Afinal, não somos todos filhos dele e, consequentemente, irmãos? Na verdade, o que mais me irrita nessas religiões é justamente a predeterminação de como deverá ser sua vida para, na morte, alcançar o "paraíso". Não há lógica nisso.

"Mulheres, usem saias que vocês irão ao céu". "Homens, deem 10% do salário de vocês que a graça será alcançada". "Mulheres, não abortem de forma alguma porque, senão, o inferno é garantido." "Camisinha? Nem pensar." "Gays? A forma mascarada do diabo." "Prostitutas? Meras infelizes que tem o inferno como destino certo." "Drogados? Não valorizam a vida terrena, então não terão vida espiritual agradável." ...

O problema das religiões é que há nela o homem. E o homem não é perfeito. O homem tem pensamentos pré-conceituados. O homem tem opinião própria. O homem interpreta a bíblia, ou outros livros sagrados, à sua maneira. O homem não é deus.

Infinitamente mais necessário do que seguir uma religião, é seguir seus próprios ideais, suas próprias vontades. Crer naquilo que se quiser, naquilo que te dê mais confiança, segurança e felicidade é uma forma linda e pura de fé. Como diria Machado de Assis...
"Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento."

domingo, 24 de julho de 2011

Go to rehab? No, no, no.

A pele branca e maltratada. Algumas veias já saltavam. Uma mulher envelhecida pela própria juventude libertina. Dona de um corpo minguado, sem graça, sem vida. Apenas ossos e pele compunham aquela figura paradoxalmente majestosa. A coroa, seu cabelo. Fios e mais fios dentro de um penteado único, algo um pouco retrô, um pouco moderno. Amy Winehouse era assim, única. Não seguia tendências, não se adequava ao mundo, não se adaptava à vida. Era dona de uma voz impecavelmente forte, em contrapartida com seu corpo fraco.



A primeira vez que ouvi sua voz foi ao som de Rehab. Fiz, em minha cabeça, a imagem de uma negra, gorda, grande, forte, bela, com a pele lisa e um grande e branco sorriso no rosto. Aquela música era viciante, passava dias e dias a fio repetindo as palavras com minha voz de taquara rachada. Até que resolvi procurar na internet os clipes da Amy Winehouse que, até então, desconhecia. Impressionei-me ao vê-la pequenina, branquinha, toda esquisita. Sua voz me arrepiava - e ainda me arrepia. É algo que mexe com meu interior, me tira de mim, me faz viajar em um sonho de águas mansas em volta de um maremoto.

Amy era usuária de drogas. Por vezes chegou a ser internada em clínicas de reabilitação. Por vezes se apresentou em seus shows em estado deplorável, consumida pelo ácool e pelas drogas. Por vezes nem conseguiu subir ao palco, por volta do qual fãs enlouquecidos se decepcionavam. Agora eu consigo entender o porquê daquele corpo franzino, aquele rosto sofrido, aquela veia gritando em seu corpo. Amy era dona de um talento inigualável, tinha uma voz única, digno de uma verdadeira diva. A sua libertinagem a tornou uma antidiva. Seu talento foi disperdiçado, e hoje temos apenas algumas músicas gravadas com sua voz. Digo apenas algumas porque, aos 27 anos, Amy Winehouse cansou de viver. Cansou de se drogar, cansou de decepcionar seus fãs, cansou de tentar. Morreu em sua casa, deixando um legado musical maravilhoso, porém curto.

Eu acredito que, onde quer que ela esteja, alguém deve perguntar a ela: "E aí, Amy. Aprendeu a lição? Vai voltar ou não pra rehab?"
E ela, assertivamente, responderá: "Go to rehab? No, no, no."

Um adeus definitivo à mulher que adiou a morte. Um adeus à mulher que emprestou sua alma à música em troca de absolutamente nada. Um adeus a uma pequena parte da música, que também cedeu sua alma a uma mulher que não só viveu, mas viveu morrendo.


terça-feira, 19 de julho de 2011

Agradecimento especial.

Obrigado.

Começo o texto de hoje com um agradecimento. Agradeço a você, que está lendo, por ser meu amigo, por fazer parte da minha insignificante vida. Insignificante, sim. Afinal, são mais de 6 bilhões de vidas humanas distribuídas em uma imensidão chamada Planeta Terra. Por que, raios, você me proporciona sua amizade? Eu fui um dos seus poucos escolhidos para receber tamanha gratificação? Sinto-me honrado. Afinal, ter um amigo igual a você é como presenciar o nascer do sol em um dia frio de inverno. Revigora, desperta o riso bom na alma. Obrigado, amigo, obrigado. Você que já me ouviu tantas vezes reclamando, xingando, chorando, e mesmo assim, me aguenta. Enfrenta minha lágrima salgada com seu doce sorriso. Ajuda-me a enfrentar os obstáculos da vida com tamanha facilidade que nem consigo mais classificá-los como obstáculos. Como não amar você? Como não agradecê-lo por tanta coisa boa que já me proporcionou? Desculpa se minha melhor maneira de retribuir a essa amizade seja por meio de poucas palavras desfiguradas. Sei que você merece mais, sei disso. Mas não esqueça, essas palavras estão sendo escritas com meu coração. É ele quem está na ponta dos dedos me fazendo escrever. E, de coração, vos digo - novamente: obrigado!

Amo vocês incondicionalmente.
Feliz dia do amigo 20/07/2011

domingo, 17 de julho de 2011

No açougue, só dá Lady Gaga

Quando a sexta-feira chega, é quase unânime o pensamento: hoje é dia de balada. O trabalho parece durar a eternidade, e se alguém estuda à noite, as palavras do professor soam como "tutz tutz", fazendo um prenúncio do que será a noite. Pronto. Fim de expediente. Agora, é só ir para casa se produzir e contactar os amigos: a festa vai começar!

As meninas começam pela roupa. Levam hoooras para decidir entre um Scarpin preto ou um vermelho. A roupa não pode ser repetida. Metodicamente, como a escolha de um nome para uma criança recém nascida, avaliam fio a fio todas as blusinhas, vestidinhos e mais outros inhos e inhas que possuem para o autoenfeite. A maquiagem deve estar impecável, claro. E o cabelo, então? Horas e horas de muito secador, muita chapinha e muita paciência. Algumas joias - ou bijouterias - para finalizar a produção. Estão prontas para se afundarem nas surpresas noturnas. Os meninos são um pouco mais práticos. Um belo banho, um tapa no cabelo. Uma roupa de marca, de preferência com aquele famoso jacarezinho em destaque na tradicional camisa polo, ou uma camisa xadrez com as mangas dobradas. Um jeans confortável. Um tênis da moda. Muito e muito perfume. Pronto, já estão totalmente finalizados, também.

Essa preocupação toda com a aparência está diretamente ligada à função das pessoas em uma balada: serem carnes expostas em um açougue. Sim. No açougue, o açougueiro expõem no balcão seus melhores pedaços de carne. Costela, picanha, alcatra, maminha e outros tipos, de melhores qualidade e aparência, são penduradas em ganchos de metal no alto para melhor visualização do freguês. Assim, a clientela terá um vislumbre de toda a mercadoria exposta e degustará as carnes, primeiramente, com os olhos. É assim que uma balada funciona. Nós, as peças de carne, nos expomos em nossas melhores condições para os outros da festa. Estes, que chegam a ficar com saliva na boca e outros líquidos em regiões pubianas do corpo, vislumbram toda aquela "carne fresquinha" para poder "jantar" depois. Na verdade, todos ali são mercadorias e clientes.

É raro encontrar alguém que vá a uma balada somente para ouvir Lady Gaga - ou outra cantora da preferência do leitor - e se divertir com os amigos. Assim como ninguém vai a um açougue para se divertir. Ambos são lugares de se vislumbrar a carne, de desejá-la, de comê-la com os olhos - e depois degustá-la com a boca.

Em minha humilde opinião, o ser humano chegou a um nível nunca dantes alcançado: o de se igualar à carne de açougue. Hoje vou ser uma picanha? Ou que tal uma maminha? Afinal, até quando iremos nos comportar como meros pedaços de carnes à espera do freguês certo? Até quando iremos nos arrumar e nos empetecar de sapatos, bolsas, perfumes, brincos, roupas de marca, para ficarmos expostos num balcão? A função da balada deveria ser a diversão. Amigos e amigas dançando ridiculamente. Divertindo-se extrapoladamente. Claro que um beijo, uma troca de olhares, uma pegação mais quente podem ser considerados normais. Mas isso deveria ser a exceção, e não a regra. O problema é que o freguês também é carne. O freguês também tem a mesma função primitiva que a sua. E me parece que a única esperança de um típico baladeiro, ao invés de querer encontrar diversão e boas risadas numa balada, é que a carne que o escolha seja tão boa ou melhor quanto a que ele próprio pode oferecer.

sábado, 16 de julho de 2011

10 segundos de reflexão sobre o amor.

Certa vez eu estava voltando de um barzinho com alguns poucos - e bons - amigos no metrô. Estávamos felizes, libertos, um pouco alcoolizados pela noite quente e sedutora que se desabrochava. O papo tinha altos e baixos, razões e devaneios, amores e desamores. "Depois que meu ex me chifrou, nunca mais quero amar de novo". Alguém lançou essa. Eu parei, baixei a cabeça, fiz minha reflexão de dez segundos, e segui com o papo que levávamos. Segui, mas não com a mesma felicidade de antes. O sorriso em meu rosto provavelmente transmitia algo de preocupante. Meus olhos já não brilhavam de empolgação, mas de um tantinho de lágrima que começava a se formar. Agora, faço questão de transmitir, por meio das palavras, aqueles dez segundos intermináveis e complexos de reflexão.

"Depois que meu ex me chifrou, nunca mais quero amar de novo."

1 - O termo chifrar é muito triste. A traição é algo dolorosa, que consome nosso estado de espírito. Trair significa o mais alto nível de desamor e desrespeito que pode haver por alguém. Significa que todo aquele amor, aquele tesão, aquele carinho que você recebia de alguém está sendo transmitido a outra pessoa, a outro corpo. Significa que todas aquelas promessas feitas em uma troca de olhares foram rompidas, como a uma corrente que, aparentemente de ferro, se quebra ao meio revelando sua verdadeira constituição fraca e opaca. Não consigo compreender o motivo da traição, o motivo da quebra de promessas silenciosas.

2 - A palavra nunca também é muito forte. Tem um poder de privação inigualável. Nunca é nunca, e não tem meio termo. Como seria possível nunca amar novamente? Nunca mais sentir aquele friozinho na barriga ao se aproximar de alguém? Nunca mais se envergonhar por ter sido visto dançando ridiculamente por alguém? Nunca mais ouvir "eu te quero pra sempre"? Amar é quase sinônimo de viver. Aquele que não ama, não vive. Amar é degustar, é observar, é sentir, é não ter medo.

3 - Fiquei triste pelo depoimento infeliz da pessoa. Isso só mostra que as pessoas se baseiam em relacionamentos passados para construírem - ou deixarem de construir - relacionamentos futuros. E acaba ficando assim, sem envolvimento, sem paixão, sem alma. Não querer amar é ter medo. De ser "chifrado" novamente? Pode ser. Mas sem se permitir amar, nunca saberá se aquele frio na barriga, se aquela vergonha pela dança ridícula, ou se a voz ecoando no ouvido "eu te quero para sempre" serão novamente fatos verdadeiros ou não. E ficará assim, na dúvida, no "chove não molha".

4 - Essa pessoa que me desculpe, mas sou 100% contrário a sua opinião. Eu não quero ficar na dúvida. Eu me permito amar. Eu me permito usufruir de todas as sensações, boas ou ruins, que o amor me dá. Eu constituo minha vida pelo amor. Eu amo sem medos, sem mais nem menos. Eu vivo o amor.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Por enquanto, sou pneu.

Estou com a sensação de vazio, de que algo está me faltando. Estou igual a um pneu, para cujo funcionamento não lhe falta nada, mas ainda assim há nele um buraco. Não me falta nada. Estou feliz, tenho uma família ótima, amigos especiais, amor para dar e vender. De certa forma, aquele que olha de fora para mim, pensa "poxa, que garoto feliz, completo, com o futuro nas mãos". Que nada! Sou uma falsa imagem que transparece aos outros algo que os olhos dos outros querem ver. Sou exatamente aquilo que você espera ver em mim, mas que não sou. Só eu sei o que sou - frase em contradição com o que foi escrito no início do texto, em que digo que algo está me faltando. Se me conhecesse milimetricamente, saberia o que é tal coisa que foge do meu controle, do meu corpo, do meu sentir. Mas não sei. Desconheço-me da mesma forma que você acha que me conhece. Na verdade, me conheço tão superficialmente... Da mesma forma que sei que tenho pintas no corpo, mas nunca, jamais conseguirei saber o lugar exato e a quantidade exata delas. Faço-me confuso? Encurto: não me conheço; você não sabe que não me conhece; falta algo em mim para que eu possa me conhecer. Acho que vou me afundar naquele tal vazio que se espalha pela minha alma. Quem sabe, na ânsia de encontrar algo de mim, me afundo mais ainda naquilo que chamamos de "eu"? E seria positivo, pois quanto mais me afundo em mim, mais me permito procurar por aquilo que me completa, aquilo que me preencha. Acho que falta isso. Eu olhar para mim, eu entrar em mim, eu pegar em mim, eu sentir a mim. Mim, mim, mim. Um egocentrismo necessário para que eu possa me conhecer e, finalmente, apresentar minha versão nua e crua de mim ao mundo.

domingo, 10 de julho de 2011

A vida na morte.

"Garota de 12 anos se mata para ter os órgãos doados ao pai e ao irmão, mas acaba cremada."

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2011/07/08/garota-de-12-anos-se-mata-para-ter-orgaos-doados-ao-pai-e-ao-irmao-mas-acaba-cremada.jhtm

Muitos devem sentir que o incrível desta notícia é o suicídio em vão da menina de 12 anos que pretendia doar seus próprios órgãos a seus entes queridos. Para mim, não. O impressionante é, justamente, a intenção da menina. Como alguém tem a sensibilidade tremenda de se privar da vida para ajudar alguém amado? Da onde ela tirou forças para excluir toda uma história que estava prestes a ser escrita? Na verdade, creio que a história dessa menina irá perdurar por muitos e muitos anos no coração de seus familiares - e em nossos corações.

Não estou dizendo que agora todos deveremos nos matar para poder ajudar alguém. Mas ao menos nos disponibilizarmos mais a quem necessita. Ela disponibilizou a vida. E nós? O que nós podemos sacrificar de nós para poder ajudar o outro? Que tal começar pelo orgulho? Sacrifica teu orgulho. Ele te sacrifica um pouco a cada dia. Ele te usa em prol de tuas vaidades e teus desejos. Teus desejos são importantes? E como são! Mas aprenda a ver o desejo do outro, o desejo daquele que tem menos facilidade em concretizá-lo.

Sou muito grato a esta garota. Eu tenho certeza de que não morreu em vão. Morreu para nos ensinar. Morreu para exaltar o amor, a esperança, e até a vida! Mesmo que seus órgãos não tenham sido utilizados da maneira que desejava, sua intenção fez prosperar o amor de seu pai e de seu irmão. E não há saúde que compense o amor que, neste momento, seus pais e seu irmão estão sentindo por você. Onde quer que você esteja, obrigado.

sábado, 9 de julho de 2011

A vontade da vontade.

Já passam das 2 horas da manhã. O sono ainda não veio me visitar. Ele costuma aparecer antes, mas ainda não deu sinal de vida. Sendo assim, me ponho à frente do computador para conversar... comigo mesmo?!
"Olá, Maurício. Como tem passado?"
Estou triste. Tenho andado desesperançoso, sem vontade de dar um passo à frente. Coragem eu tenho, só não tenho motivos para dar esse passo. Sabe como é? Essas indecisões que surgem em nossas vidas... O que fazer? Para onde ir? Qual caminho escolher? Eu tenho um leque de oportunidades, mas todas estão restritas à minha indecisão, à minha falta de vontade em optar. Optar é algo difícil. Ganha-se aqui, mas se perde ali. E eu não sei se os ganhos compensarão as perdas. Quero voltar. Quero dar um passo atrás, mas não posso. Não depois de tudo o que já caminhei até hoje. Não seria justo com meu futuro. Não seria justo com o meu sofrimento do passado. Tanto sangue minha alma derramou para que hoje o sorriso pudesse brotar espontaneamente em meu rosto. Não posso sacrificar meu sorriso. Ele é puro e me é benéfico. Retroceder seria dar forças aos meus medos extintos. E eu não quero mais sentir medo. Não quero ter a terrível sensação de que sei o que tenho que fazer, mas não faço. O contrário já me é (quase) insuportável atualmente. Sei que digo essas palavras sem nexo, sem sentido, sem coerência. E afinal o que é um ser humano sem destino? É alguém sem nexo, sem sentido, sem coerência. Não me culpo pelas palavras desprezíveis lançadas até o momento. Não me culpo porque não me faço sentido. Não me tenho como meu. Sou do mundo. Estou à mercê da vontade alheia. Minha vontade... que vontade? Eu não tenho vontades. Estou sem desejos. Ou melhor, com apenas um. Tenho vontade de ter vontade. Seria um começo?

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A mulher não-mulher.


Calça social. Camisa social. Gravata. Paletó. Sapato. Cinco ingredientes fundamentais ao meu típico dia de trabalho. Saio de casa muito bem vestido, com o nariz lá em cima e a alma lá embaixo. "Mais um burguês", deve ser o cumprimento pensante da mulher da limpeza do condomínio onde moro, devolvendo meu tradicional "bom dia". E a minha suposição do que seria o pensamento dela não está errada. Compro roupas legais, como em restaurantes bons, saio aos fins de semana. Sou um burguês. Não posso negar. Já estou inserido, e sempre estive, no mundo capitalista-consumista-ista-ista-ista.

O fato é que ainda não estou acostumado com a ideia de que nem todos desfrutam de uma vida economicamente "tranquila" como a minha - excetuando-se as contas a pagar, claro. E por isso, sou pego de surpresas diariamente.

O local onde trabalho, em frente à estação de metrô Santa Cecília, é repleto de moradores de rua. Lembro-me perfeitamente do rosto de oito que sempre estão lá - tem mais, mas me recordo desses. Maltrapilhos, sujos pela vulgaridade e pela indiferença com que são tratados. Exprimem no rosto uma felicidade ensandecidamente sofrida. Riem de tudo, esbravejam por nada. Nunca choram.

Dentre os oito de que me lembro, uma única mulher. Os dentes podres brotam de sua boca sem risos. Seus cabelos maltratados emergem de um corpo forte, vacinado contra qualquer tipo de ameaça ou ação desconsertante. Cicatrizes pelo corpo de uma vida sem vida. Uma mulher não-mulher. Uma Vênus para os mendigos restantes. Uma mendiga restante para todos os outros.

Certa vez eu, todo cheio de mim por trás do paletó, fumava meu tradicional cigarro na praça em frente ao local do meu trabalho. Era dez horas da manhã, a temperatura abaixo dos quinze graus. Mesmo com o paletó quentinho, o frio eriçava os pelos do meu corpo. A mulher não-mulher passou por mim. “Me dá um cigarro?”, sua voz rouca me lançou. Meu tradicional “não tenho” a fez ir embora. Não tão embora. A dez metros de mim, encostada no muro que separa uma igreja católica do mundo profano, ela, sem pudores – e pra quê pudores? – abaixou suas calças e urinou deliberadamente. A urina corria ao chão como uma faca correu à minha soberba.

Ela não sentia frio? Nem constrangimento? Não. O problema é justamente este. Ela já não sente.

Meu paletó não teria me permitido urinar na frente dos outros no meio de uma praça. Agarrei-me a ele como um guerreiro se agarra a seu escudo na hora de combate. Sentia-me, com ele, protegido. Como se ele fosse uma vacina antiviral, e o vírus, a atitude da  mulher não-mulher. Por ter sentido isso, por ter agido assim, me envergonho. Prejulguei aquela criatura como criatura que é. Porém, por trás disso, há um ser humano. Por trás da criatura que urina ao chão na frente de outrem, há um ser humano. Da forma mais animalesca possível mas, mesmo assim, humana.

Não posso mais esperar que todos urinem em vasos sanitários. Não quero ter a doce ilusão de que, para defecar, todos se sentam a uma tampa arredondada com um buraco no meio. Pessoas cagam e mijam no chão, na praça, na rua. É uma triste realidade com a qual devo aprender a lidar. Meu paletó não pode ter uma sujeirinha, mas a mendiga maltrapilha pode ter todo um corpo sujo pela vida? Não quero admitir. Não consigo compreender a maldade do mundo contra aquela criatura. O mundo fez de mim um homem e, dela, um animal?

Não quero mais meu paletó. Não quero mais minha armadura contra as verdades que circulam por mim. Poderia ser eu, ali, na situação mais íntima e desconfortante possível. Não vou usar meu paletó como uma desculpa de que estou imune a situações como esta. Agora, tenho nojo dele, e não dela, em uma terrível sensação de arrependimento por um dia ter julgado um objeto mais importante que um ser humano.

sábado, 2 de julho de 2011

O medo e as vadias

E há pouco eu falava sobre o medo, no post anterior. É drástico viver numa sociedade em que muito pouco nos é oferecido além do medo. Sim. Estamos cercados por ordens, imposições e tendências que determinam nosso modo de viver. E arrisque sair do eixo. Arrisque-se afrontar com aquilo que, para você, não é significativo mas, para a sociedade, representa a própria vida. Dá medo. O medo, em certas ocasiões, é importante. Você deve enfrentá-lo. Sempre. Mas com muita cautela e sabedoria. O medo nos deixa com um pé atrás, pronto para sair correndo se for necessário. Devemos "matar" o medo, mas devemos nos aproveitar de sua alma. Afinal, aqui falamos de enfrentar toda uma sociedade. Toda uma moral que vem sendo arquitetada há séculos e séculos a fio. Não é fácil. Há muita luta, perseverança e consciência para enfrentar a forma de pensar do mundo em que vivemos. Mudar o sistema? É possível. Mas a longo prazo. Algo que foi formado durante anos não será transformado da noite para o dia. Muito menos por apenas uma pessoa. O medo atrapalharia essa possível transformação. Mas sua alma dará segurança para que essa mudança seja efetuada com sucesso.

Essa pequena reflexão foi constituída para introduzir o tópico abaixo, ao qual devemos nos atentar.

Marcha das vadias
 A "Marcha das vadias" acontece em vários países, inclusive no Brasil. Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, Florianópolis, Juiz de Fora, Recife, Fortaleza, Porto Alegre e Natal são cidades em que a marcha já deu o ar de sua graça. Esse fim de semana foi a vez da cidade maravilhosa. O Rio de Janeiro recebeu neste sábado (2) a marcha das vadias. Cerca de 300 pessoas participaram do evento, em prol do combate à violência sexual e às agressões cometidas contra as mulheres.
Esta marcha entra em meu tópico para mostrar o quão forte é o tal sexo frágil. Em busca de respeito, as mulheres saíram às ruas na marcha das vadias para terem voz em suas bocas, tapadas pelas mãos de toda a sociedade que, em geral, trata as mulheres como minoria. Recebem salários mais baixos, são vistas como prostitutas quando traem seus parceiros (as que usam roupas mais curtas e justas, também) e o pior: quando são agredidas por seus maridos, grande parte da sociedade não acha anormal. Ou até acha, mas vê o marido no direito de fazer isso, já que o casamento é visto como um contrato de suserania e vassalagem, e não uma declaração mútua de amor. A marcha das vadias é contra tudo isso. E é organizado, majoritariamente, por mulheres, cujas vidas já estão saturadas de tanta ignorância. E essas mulheres tiveram que fazer uma coisa antes de organizar a marcha: vencer o medo! Outras continuam em suas casas, tendo suas vidas - não de mulher - de vassalas. De seres subordinados a outros. As mulheres que foram à marcha são mulheres. Nem vadias, nem santas. Nem vassalas, nem suseranas. Nem oprimidas, nem opressoras. Mulheres, na mais óbvia definição do termo. Por isso, tiro meu chapéu a elas. Tiro meu chapéu à coragem delas. Estão lutando contra um patriarcalismo ridículo herdado do Brasil COLÔNIA. Eu disse colônia! Isso foi há 500 anos. E rastros desse tempo obscuro continuarem nos dias de hoje é algo inaceitável. Parabéns mulheres que são mulheres. Admiro-as muito e estou do lado de vocês nessa luta acirrada contra 500 anos de história. 500 anos de medo!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Hoje sou um assassino.

Era agosto de 2007, minha volta às aulas no segundo semestre do segundo ano do ensino médio. Eu estava aflito. O suor me corria pelas mãos e pela testa, que já brilhava. A temperatura ambiente era agradável. A interna, um caldeirão. Apertei o botão "T" (térreo) do elevador, e esperei. Que viagem eterna fez aquela geringonça! Os números digitais que descresciam conforme a queda do elevador se fixaram em minha retina, como aqueles filmes Hollywoodianos que, mesmo inúteis, nos aprisionam na fantasia. E a minha fantasia era a de que o elevador parasse e eu tivesse uma desculpa para não ir à escola. Desejo em vão. A porta do elevador se abriu, e meu caminho se encurtou. Um passo incerto, e lá fui eu.

Do portão de entrada do prédio ao ponto de ônibus, fixei apenas nos meus pés que desobedeciam totalmente o que a gota de suor que escorria pela nuca tentava gritar. "Volta, volta!! Você nunca pegou um ônibus na vida, você nunca teve liberdade para sair de casa sozinho. Você vai se dar mal!"

...Não sei dizer se nunca tive liberdade, ou se nunca havia lutado por ela. O fato é que, para ir à escola, meus pais me levavam ou pagavam vans escolares para isso. Era muito cômodo para mim. Mas a partir daquele dia minha vida mudou. Ah, e como mudou!...

Continuei meu caminho ao ponto de ônibus. Extremamente atormentado. Se alguém me chamasse naquele momento, com certeza não responderia. Eu não estava em mim. Nem sabia quem eu era. A única coisa que tinha em mente era "acene para o ônibus 601 ou 651, Praia da Costa, e peça para o cobrador avisar quando chegar em frente ao Colégio Darwin". Era um script minuciosamente decorado, como se eu fosse encenar alguma peça de Shakespeare. Eu era um péssimo ator!

Cheguei ao ponto de ônibus e dei uma boa olhada para tentar reconhecer alguém. Ninguém. Apenas eu e meu medo. Eu e minha liberdade maldita! Por que não bati o pé e exigi que continuassem pagando o Sr. Edson da van para me levar todos os dias à escola? Burro. Me xinguei de todos os palavrões inimagináveis.

Mas não adiantava mais. Lá vinha ele. Todo azul, imponente. Sua cara era ameaçadora, quase que dizendo "você vai entrar, mas não sei se vai sair". Era o 601 Praia da Costa. Com sobrenome e tudo! Acenei, o braço trêmulo. O bicho papão parou em minha frente. Aquele passo para entrar no ônibus foi uma luta interna impossível de descrever com palavras. Mas que besteira, Maurício! Um rapagão de quase 16 anos com medo de pegar um ônibus?, vocês devem estar pensando. Sim. Medo de não ter certeza do que vai acontecer. Medo de não ter certeza da onde vou parar. Para alguém que sempre teve certeza e segurança de todo o passo que iria dar, pegar um ônibus pela primeira vez era uma aventura no deserto.

Entrei. Dei dois reais ao cobrador, que me devolveu algumas moedas de cujo valor não me lembro. Perguntei onde ficava o Colégio Charles Darwin. "No ponto final, fique tranquilo." Tranquilo? Quase o mandei à merda, mas me lembrei de que a merda já estava lá. A merda era meu medo. E quem estava nela era eu, chafurdado naquela pasta mal-cheirosa da mente.

Sentei-me na última poltrona. Quieto. Frio. Ofegante. Onde vai parar? Alguém que conheço vai me ver nessa situação? Chegarei na escola? Peguei o ônibus certo? O cobrador está me enganando? Se aquele viado filho da puta mentiu pra mim, eu armo um barraco! Pensamentos de uma mente tão fechada no próprio mundo que agora me deu vontade de rir. Naquela hora o riso me seria desconcertante. Provavelmente riria igual a um louco.
A viagem foi muito normal. A normalidade excessiva dela me assustava. Era para ser algo tão inovador, tão aterrorizante, tão tão tão... Foi normal. Apenas. Cheguei ao ponto final, todos desceram. Eu fui o último, e do ponto final já conseguia avistar minha escola. Então era isso? Esse medo todo por ter liberdade? Por que a liberdade me assustava tanto?

A verdade é que venci o medo. Venci, e adorei ter vencido. Como era boa a sensação. Enfiei uma faca no estômago do medo, que sangrava ininterrupto. E eu adorei tê-lo visto sangrar. Morrer. O medo morreu, a liberdade nasceu. O que fazer com a liberdade? Vou pegar mais ônibus! Vou parar em lugares desconhecidos, eu pensei. Queria explorar mais minha liberdade, para poder matar mais e mais medos que eu tinha. Tornei-me, naquele dia, um serial killer. Venho matando, desde então, todos os medos que tenho. Vê-los sangrar e padecer é algo glorioso para mim. Mas, para isso, preciso afiar meus facões. Estou sempre afiando. Sempre preparado para destroçar qualquer outro bicho papão que apareça em minha vida. E é assim que deve ser.

"Cobrador, me avise quando chegar no ponto da liberdade ilimitada, por favor."

O pouco inteiro do blog

Por vezes iniciei um blog. Esse já é meu quinto ou sexto. Escrevia durante duas, três semanas. Depois largava, por medo. Voltava a escrever esporadicamente, vez ou outra. Mas essa semana duas pessoas me deram um tapa na cara. Um em cada bochecha. "Acorda, Maurício." Ambos me gritaram. E eu acordei. Resolvi encarar o medo das letras, o medo dos olhares sobre as letras, o medo dos pensamentos dos olhares sobre as letras. Sobre as MINHAS letras, que em conjunto formam ideias, sentimentos. Formam o Maurício. Acho que era isso. O medo de as letras me divulgarem, me exporem, me sujarem. Mas me livrei do medo. Sinto que a crítica daqueles olhares, por ora tenebrosos, tornaram-se incentivos. Tornaram-se "UHUL, VAI LÁ!". Agora eu quero me divulgar, eu preciso me divulgar. Nem que seja apenas o pouco inteiro de mim.


Agradecimento especial à Juliana Olivieri e à Eliane Brum.