sábado, 2 de julho de 2011

O medo e as vadias

E há pouco eu falava sobre o medo, no post anterior. É drástico viver numa sociedade em que muito pouco nos é oferecido além do medo. Sim. Estamos cercados por ordens, imposições e tendências que determinam nosso modo de viver. E arrisque sair do eixo. Arrisque-se afrontar com aquilo que, para você, não é significativo mas, para a sociedade, representa a própria vida. Dá medo. O medo, em certas ocasiões, é importante. Você deve enfrentá-lo. Sempre. Mas com muita cautela e sabedoria. O medo nos deixa com um pé atrás, pronto para sair correndo se for necessário. Devemos "matar" o medo, mas devemos nos aproveitar de sua alma. Afinal, aqui falamos de enfrentar toda uma sociedade. Toda uma moral que vem sendo arquitetada há séculos e séculos a fio. Não é fácil. Há muita luta, perseverança e consciência para enfrentar a forma de pensar do mundo em que vivemos. Mudar o sistema? É possível. Mas a longo prazo. Algo que foi formado durante anos não será transformado da noite para o dia. Muito menos por apenas uma pessoa. O medo atrapalharia essa possível transformação. Mas sua alma dará segurança para que essa mudança seja efetuada com sucesso.

Essa pequena reflexão foi constituída para introduzir o tópico abaixo, ao qual devemos nos atentar.

Marcha das vadias
 A "Marcha das vadias" acontece em vários países, inclusive no Brasil. Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, Florianópolis, Juiz de Fora, Recife, Fortaleza, Porto Alegre e Natal são cidades em que a marcha já deu o ar de sua graça. Esse fim de semana foi a vez da cidade maravilhosa. O Rio de Janeiro recebeu neste sábado (2) a marcha das vadias. Cerca de 300 pessoas participaram do evento, em prol do combate à violência sexual e às agressões cometidas contra as mulheres.
Esta marcha entra em meu tópico para mostrar o quão forte é o tal sexo frágil. Em busca de respeito, as mulheres saíram às ruas na marcha das vadias para terem voz em suas bocas, tapadas pelas mãos de toda a sociedade que, em geral, trata as mulheres como minoria. Recebem salários mais baixos, são vistas como prostitutas quando traem seus parceiros (as que usam roupas mais curtas e justas, também) e o pior: quando são agredidas por seus maridos, grande parte da sociedade não acha anormal. Ou até acha, mas vê o marido no direito de fazer isso, já que o casamento é visto como um contrato de suserania e vassalagem, e não uma declaração mútua de amor. A marcha das vadias é contra tudo isso. E é organizado, majoritariamente, por mulheres, cujas vidas já estão saturadas de tanta ignorância. E essas mulheres tiveram que fazer uma coisa antes de organizar a marcha: vencer o medo! Outras continuam em suas casas, tendo suas vidas - não de mulher - de vassalas. De seres subordinados a outros. As mulheres que foram à marcha são mulheres. Nem vadias, nem santas. Nem vassalas, nem suseranas. Nem oprimidas, nem opressoras. Mulheres, na mais óbvia definição do termo. Por isso, tiro meu chapéu a elas. Tiro meu chapéu à coragem delas. Estão lutando contra um patriarcalismo ridículo herdado do Brasil COLÔNIA. Eu disse colônia! Isso foi há 500 anos. E rastros desse tempo obscuro continuarem nos dias de hoje é algo inaceitável. Parabéns mulheres que são mulheres. Admiro-as muito e estou do lado de vocês nessa luta acirrada contra 500 anos de história. 500 anos de medo!

2 comentários:

  1. Essa semana mesmo estava discutindo sobre o nome "Marcha das Vadias". Se era agressivo demais e talvez confirmasse o que era dito sobre as mulheres. Concluímos que é muito mais impactante, já que hoje em dia só se consegue algo chamando a atenção. Nada melhor que vadias. Até os pervertidos de plantão vão querer saber o que é, e talvez alguns se salvem e encarem as mulheres com o olhar na mesma altura e não de cima para baixo.

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  2. Pois é. Também me questiono - e ainda não tenho um parecer definido - se "Marcha das vadias" seria o melhor nome para o protesto. Concordo plenamente que é mais impactante e chama mais a atenção. Mas em algumas placas que algumas mulheres levaram à marcha, estava escrito "Nem vadias, nem santas". Então, se não são vadias, por que se nomeiam como vadias? Enfim, acho que não vem ao caso. O importante é que, vadias ou não, são mulheres, são humanas, e precisam de respeito e segurança, como qualquer outro.

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