domingo, 17 de julho de 2011

No açougue, só dá Lady Gaga

Quando a sexta-feira chega, é quase unânime o pensamento: hoje é dia de balada. O trabalho parece durar a eternidade, e se alguém estuda à noite, as palavras do professor soam como "tutz tutz", fazendo um prenúncio do que será a noite. Pronto. Fim de expediente. Agora, é só ir para casa se produzir e contactar os amigos: a festa vai começar!

As meninas começam pela roupa. Levam hoooras para decidir entre um Scarpin preto ou um vermelho. A roupa não pode ser repetida. Metodicamente, como a escolha de um nome para uma criança recém nascida, avaliam fio a fio todas as blusinhas, vestidinhos e mais outros inhos e inhas que possuem para o autoenfeite. A maquiagem deve estar impecável, claro. E o cabelo, então? Horas e horas de muito secador, muita chapinha e muita paciência. Algumas joias - ou bijouterias - para finalizar a produção. Estão prontas para se afundarem nas surpresas noturnas. Os meninos são um pouco mais práticos. Um belo banho, um tapa no cabelo. Uma roupa de marca, de preferência com aquele famoso jacarezinho em destaque na tradicional camisa polo, ou uma camisa xadrez com as mangas dobradas. Um jeans confortável. Um tênis da moda. Muito e muito perfume. Pronto, já estão totalmente finalizados, também.

Essa preocupação toda com a aparência está diretamente ligada à função das pessoas em uma balada: serem carnes expostas em um açougue. Sim. No açougue, o açougueiro expõem no balcão seus melhores pedaços de carne. Costela, picanha, alcatra, maminha e outros tipos, de melhores qualidade e aparência, são penduradas em ganchos de metal no alto para melhor visualização do freguês. Assim, a clientela terá um vislumbre de toda a mercadoria exposta e degustará as carnes, primeiramente, com os olhos. É assim que uma balada funciona. Nós, as peças de carne, nos expomos em nossas melhores condições para os outros da festa. Estes, que chegam a ficar com saliva na boca e outros líquidos em regiões pubianas do corpo, vislumbram toda aquela "carne fresquinha" para poder "jantar" depois. Na verdade, todos ali são mercadorias e clientes.

É raro encontrar alguém que vá a uma balada somente para ouvir Lady Gaga - ou outra cantora da preferência do leitor - e se divertir com os amigos. Assim como ninguém vai a um açougue para se divertir. Ambos são lugares de se vislumbrar a carne, de desejá-la, de comê-la com os olhos - e depois degustá-la com a boca.

Em minha humilde opinião, o ser humano chegou a um nível nunca dantes alcançado: o de se igualar à carne de açougue. Hoje vou ser uma picanha? Ou que tal uma maminha? Afinal, até quando iremos nos comportar como meros pedaços de carnes à espera do freguês certo? Até quando iremos nos arrumar e nos empetecar de sapatos, bolsas, perfumes, brincos, roupas de marca, para ficarmos expostos num balcão? A função da balada deveria ser a diversão. Amigos e amigas dançando ridiculamente. Divertindo-se extrapoladamente. Claro que um beijo, uma troca de olhares, uma pegação mais quente podem ser considerados normais. Mas isso deveria ser a exceção, e não a regra. O problema é que o freguês também é carne. O freguês também tem a mesma função primitiva que a sua. E me parece que a única esperança de um típico baladeiro, ao invés de querer encontrar diversão e boas risadas numa balada, é que a carne que o escolha seja tão boa ou melhor quanto a que ele próprio pode oferecer.

5 comentários:

  1. Olha o texto "tava" me parecendo de cunho "caretoide" mas depois de compara-lo com a foto... nossa!!! "Brilhante" merecia a foto antes do texto ate!!! Alessandro

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  2. Eh...Na verdade não sei pq a juventude faz isso, deveria ser coisa de coroa encalhado.
    Balada serve para se divertir, mas tem muitas pessoas que vão para isso. As carnes de açougue são somente carnes de açougue...Boa amigo!

    Larissa Berbel

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  3. Excelente texto, amigo! Adorei a crítica. Fatidicamente a juventude é esta que vc descreveu.

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  4. Mau, adorei seu texto!! E o layout do blog está ótimo também, deixa assim! Beijinhos, Juju

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