terça-feira, 12 de julho de 2011

Por enquanto, sou pneu.

Estou com a sensação de vazio, de que algo está me faltando. Estou igual a um pneu, para cujo funcionamento não lhe falta nada, mas ainda assim há nele um buraco. Não me falta nada. Estou feliz, tenho uma família ótima, amigos especiais, amor para dar e vender. De certa forma, aquele que olha de fora para mim, pensa "poxa, que garoto feliz, completo, com o futuro nas mãos". Que nada! Sou uma falsa imagem que transparece aos outros algo que os olhos dos outros querem ver. Sou exatamente aquilo que você espera ver em mim, mas que não sou. Só eu sei o que sou - frase em contradição com o que foi escrito no início do texto, em que digo que algo está me faltando. Se me conhecesse milimetricamente, saberia o que é tal coisa que foge do meu controle, do meu corpo, do meu sentir. Mas não sei. Desconheço-me da mesma forma que você acha que me conhece. Na verdade, me conheço tão superficialmente... Da mesma forma que sei que tenho pintas no corpo, mas nunca, jamais conseguirei saber o lugar exato e a quantidade exata delas. Faço-me confuso? Encurto: não me conheço; você não sabe que não me conhece; falta algo em mim para que eu possa me conhecer. Acho que vou me afundar naquele tal vazio que se espalha pela minha alma. Quem sabe, na ânsia de encontrar algo de mim, me afundo mais ainda naquilo que chamamos de "eu"? E seria positivo, pois quanto mais me afundo em mim, mais me permito procurar por aquilo que me completa, aquilo que me preencha. Acho que falta isso. Eu olhar para mim, eu entrar em mim, eu pegar em mim, eu sentir a mim. Mim, mim, mim. Um egocentrismo necessário para que eu possa me conhecer e, finalmente, apresentar minha versão nua e crua de mim ao mundo.

Um comentário:

  1. É o não querer, mas que bem querer, é o não contentar-se de contente, é dor que desatina sem doer...

    Eu acredito que não há forma de conhecer-se por completo. Conhecer-se é plenitude, e na plenitude, os sonhos acabam. Se possui-se tudo, nada mais se quer. E é aí que a vida acaba.

    Lindo texto, como sempre.

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