quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Minha primeira entrevista: "Cada um vive o que quer e ponto."

A neuropsicóloga Mirian Malatesta Reis conta como a homofobia é encarada pela Psicologia e diz como a sociedade reage à diversidade sexual.


A homofobia é uma realidade no Brasil e não pode ser ignorada. Descobrir o motivo pelo qual algumas pessoas desenvolvem certa aversão à homossexualidade é uma tarefa árdua da psicologia. A neuropsicóloga Mirian Malatesta Reis me recebeu em seu consultório, no bairro de Moema, em São Paulo, para explicar qual o papel da Psicologia no enfrentamento à homofobia.  Além disso, fez uma crítica severa às fontes midiáticas que propagam por meio dos meios de comunicação imagens deturpadas dos homossexuais: “Isso é uma discriminação e ninguém percebe. Não consigo entender como os homossexuais permitem que isso aconteça.” A neuropsicóloga também se mostrou indignada com o uso da religião para impor o que é certo e errado ao homossexual.


Na opinião da senhora, qual é o papel da Psicologia no enfrentamento à homofobia?
A realização de terapias individuais não permite um enfrentamento à homofobia em escala social. Para haver de fato um enfrentamento à prática homofóbica, deve existir uma conscientização de toda a sociedade. As pessoas devem ter em mente que todos nós temos fobias, temos medos, temos aversões a algo. Cabe a cada um de nós saber administrar esse sentimento de repulsa sem interferir na vida do outro. Acredito que a Psicologia não tem forte influência no que diz respeito ao enfrentamento à prática homofóbica. Mas a sociedade de modo geral tem.

No campo acadêmico, como a Psicologia se posiciona quanto à diversidade sexual e à homofobia? Essa ciência assume alguma postura?
Não. A Psicologia não tem um posicionamento definitivo. A pessoa que procura um especialista é tratada dentro do conteúdo dela. Ou seja, dentre nós da área da Psicologia há uma imparcialidade. Não levantamos bandeiras, mas buscamos conscientizar as pessoas de que somos diferentes em todos os âmbitos. E isso é ótimo! Um homofóbico não precisa pedir permissão para ser aceito dentro de um grupo. Então por que o homossexual precisa? É um absurdo! Cada um vive o que quer e ponto. Os psicólogos devem ajudar o homossexual a entender o porquê de sua escolha sexual. Não concordo quando dizem que o homossexual já nasce assim ou que é simplesmente uma opção. Tudo na vida de uma pessoa tem que ser entendido.

Mas o fato de o homossexual entender o porquê da sua escolha sexual não pode contribuir para que ele repense e tente mudar sua forma de ser?
Não. Essa forma de pensar, aliás, é preconceituosa. A terapia é o encontro que você realiza com seu interior, com suas questões mais íntimas. Ela serve para clarear causa e consequência. E, assim, você passa a ter total domínio sobre sua própria vida.

Que impactos psicológicos e sociais as agressões preconceituosas, tanto física quanto moral, podem causar em um homossexual?
É muita coisa. Preciso me controlar para não me emocionar. As agressões causam impacto na autoimagem do homossexual, deturpam sua personalidade. Às vezes nem a terapia é capaz de reverter tais impactos. O agredido busca o isolamento e se torna alvo de “chacota”. O que eu mais recebo em consultório são homossexuais que foram fisicamente agredidos. Isso gera na pessoa uma depressão terrível. Ela pode passar a se autoagredir.

Como os psicólogos podem auxiliar os familiares de um homossexual que são contrários à homossexualidade?
É complicado! É incrível como o ser humano adora ser preconceituoso. A Psicologia orienta no sentido de que não interessa a opinião da pessoa, afinal trata-se de um ser humano. O problema é que o ser humano vai muito atrás do que é socialmente aceito. Tem casos em que pessoas se envergonham de ter um homossexual na família e
acabam não se preocupando em como ele está se sentindo. A nossa área orienta os familiares a viver com essa pessoa, “afofando” sua vida, em vez de trazer mais agressões, dúvidas e problemas. Afinal, o amor entre familiares deve ser incondicional.

Enquanto psicóloga, como a senhora visualiza a aceitação da sociedade brasileira atual quanto à diversidade sexual?
Está muito melhor hoje em dia. Mas é hipocrisia falarmos em aceitação. As pessoas estão cada vez mais articuladas, então não tapam mais o sol com a peneira. E não me refiro apenas à diversidade sexual. A sociedade brasileira atual é tão rudimentar que impõe preconceitos até a pessoas que usam barba ou que tem uma tatuagem. É o cúmulo!

E a religião? Influencia nessa reprovação à diversidade sexual?
Com certeza. Quanto mais religioso é um determinado grupo, menor será a aceitação dele para com homossexuais. E isso é extremamente maléfico ao homossexual que, não raramente, é espiritualizado. Ele entra numa espécie de luta interna. Ainda mais se parentes e amigos dizem que a homossexualidade é algo “do diabo”. Para que dizer isso? Ele já está em um autoconflito! A religião deveria ser algo acolhedor e reconfortante para a família. E não um meio utilizado para determinar a escolha de cada um.

Como a senhora avalia a propagação na mídia de estereótipos relativos aos homossexuais, por meio de novelas e programas humorísticos, por exemplo?
Horrível. Isso só piora, pois não é feita uma conscientização de que o personagem é um ser humano. Mas, um homossexual. E só. Isso é uma discriminação e ninguém percebe. Não consigo entender como os homossexuais permitem que isso aconteça. Nas novelas, principalmente, eles são retratados como cachorrinhos de estimação que você deve aceitar e gostar, pura e simplesmente, por ele ser homossexual. A opção sexual da pessoa não pode definir se você deve gostar ou não dela. A novela discrimina o homossexual de forma velada.
Muitas vezes o ator nem é homossexual. Isso é ridículo! É como se aquilo fosse um mero teatro. Mas não é. Aquilo é vida real. Que ponham ao menos um ator homossexual no papel. A homossexualidade não pode ser tratada como um espetáculo dentro da novela. Deveria ser um processo natural. O pior é quando lançam aquelas enquetes perguntando se os dois gays da novela devem ou não ficar juntos no final. Isso é de uma discriminação absurda! Está sendo passado que nós temos o poder de decidir o futuro dos homossexuais.

A criminalização da homofobia seria uma medida coerente a ser tomada na tentativa de conter os casos de preconceitos e agressões contra o homossexual?
Isso é muito relativo. Se você pune, você gera mais agressão velada, escondida. No cinema, um homossexual pode ser agredido, repentinamente, com uma facada. Em uma rua escura ele pode ser apedrejado. Por outro lado, se não há punição, a agressão fica escancarada. É uma questão muito complicada, não sou capaz de decidir sobre isso. Há muito a ser estudado, não só por parte da Psicologia, mas por toda a sociedade.
Eu acredito que a punição deve ser feita não pelo agredido ser um homossexual, mas por ele ser um ser humano. Toda forma de agressão deve ser punida de alguma maneira.



domingo, 6 de novembro de 2011

Querer você

Eu quero olhar seus olhos e dizer que você representa o mundo para mim. Eu quero andar de mãos dadas com você no meio da multidão e fingir que não há ninguém em volta. Eu quero lhe pegar no colo, lhe jogar na cama e lhe amar profundamente. Eu quero que você se encoste em meu peito para que eu faça um cafuné nesse seu cabelo cheiroso. Eu quero tomar banho com você e deixar a água escorrer pelo nosso corpo enquanto nos beijamos. Eu quero ir ao cinema com você sem sequer saber o nome do filme. Eu quero conhecer sua família, adentrar seu cotidiano, e respirar do mesmo ar de que você sobrevive. Eu quero cozinhar para você enquanto você aguarda no sofá assistindo a algum programa de televisão típico de domingo. Eu quero chegar do trabalho cansado, deitar em nossa cama e esperar por uma boa massagem. Eu quero jogar pétalas de rosa vermelha pela casa, comprar um bom vinho e deixar que a noite nos guie ao prazer. Eu quero correr atrás de você pelas ruas de São Paulo e te agarrar pela cintura, como se fôssemos eternos namorados. Eu quero ir ao karaokê e cantar desafinadamente aquela nossa música. Eu quero rir sem parar de algum motivo bobo que só nós tenhamos conhecimento da graça. Eu quero que você me deixe lhe amar, e eu quero que você ame a mim. Eu quero você.

Enquanto muitos pensam que isso é utopia, eu penso que isso é amor. E amor, meus caros, é a realidade que move minha vida.